Por Daniel Munduruku
Abril
costuma ser um mês bastante importante para a divulgação da questão indígena em
terras brasileiras (antes dir-se-ia: em terras Tupinikim). Eventos ocorrem em
todos os quadrantes para lembrar à sociedade que aqui sobrevivem teimosamente
250 povos tradicionais, falantes de aproximadamente 180 línguas e que ocupam
13% do território nacional. Foram eventos políticos, culturais ou educativos
necessários para se quebrar estereótipos e conceitos preconcebidos que já
perduram há centenas de anos na cabeça do brasileiro.
Não
à toa a mídia ocupou parte de seu horário para falar sobre o tema. Nem sempre
boas notícias. Ou melhor, quase nunca. A sociedade brasileira foi bombardeada
por inúmeras notícias parciais sobre invasões de terras ou prédios públicos por
parte dos indígenas. As versões eram sempre das “vítimas” consultadas.
Raramente a palavra era dada aos “invasores” reforçando a falsa idéia de que os
“índios” são baderneiros, violentos, insensíveis.
Xingu foi uma rara exceção nos noticiários.
Todos exaltaram as qualidades do filme que retrata a saga dos irmãos
Villas-Boas, autênticos heróis contemporâneos. O filme, parece, não decolou
para o desespero de seus produtores. Impressão ruim de que “os brasileiros não gostam de índio”,
como afirmava Darcy Ribeiro. Nem todos, penso eu. Tenho alguma esperança. Parte
dela me é dada pela literatura.
Dentro
do universo da literatura – que nos interessa aqui – os eventos realizados
durante abril e começo de maio nos reforçam a esperança de que estamos num
caminho que pode fazer mudar este quadro pintado pela história colonial
brasileira e reproduzido pela imprensa.
Desde
o começo do mês realizamos uma caravana literária, batizada Mekukradjá, palavra da língua Kaiapó que
quer dizer transmissão de saberes. É um projeto que já tem estrada, pois
começou no ano de 2011 e promete seguir adiante. Naquele ano passou por Manaus/AM,
Cananéia/SP e Peruíbe/SP, graças ao apoio da Funarte através da saudosa bolsa
de difusão literária. Este ano – graças ao apoio incondicional do Instituto
C&A – passou pela cidade de Lorena, interior de São Paulo e Rio
de Janeiro, onde juntou-se ao Salão FNLIJ de Livros para Crianças e Jovens e
ali organizou o 9º. Encontro de Escritores e Artistas Indígenas; organizou, na
UERJ, exposição de obras de artistas indígenas do Amazonas e Roraima; dialogou
com estudantes da PUC/RJ; palestrou para imortais da ABL através da fala da
indígena potiguara Graça Graúna; banqueteou-se através do sarau lítero-musical
nos jardins da Biblioteca Nacional; falou das linguagens literárias na Escola
de Cinema Darcy Ribeiro e finalizou realizando o “1º. Caxiri na Cuia – Colóquios sobre Literatura Indígena” em
parceria com a Universidade Federal de São Carlos através do Grupo de
Pesquisa Linguagens, Etnicidades e Estilos em Transição, coordenado
pela professora Maria Silvia Cintra Martins. Foram, portanto, eventos que
atingiram crianças, jovens, educadores, acadêmicos, universitários e o público
em geral. Foram momentos emocionantes e esperançosos para todos nós.
Além
dessas ações que foram organizadas e protagonizadas pelos próprios indígenas – tentativa
sempre louvável de se fazer ouvir/ler – outros eventos ocorreram em que a
Literatura Indígena se fez presente como a Feira do Livro de Bogotá, Bienal
Nacional do Livro de Brasília, Bienal do Livro do Amazonas, Conferência
Internacional de Empreendedorismo Indígena e a Feira do Livro de Atibaia. Não
foram poucas as ações em um único mês. E quem as noticiou? Quem lembrou de
colocar uma “notinha” nos jornais? Quem teve interesse em acompanhar a luta do
pequeno Davi contra o grande Golias? Quem viu dom Quixote lutando contra os
moinhos de vento?
Aqui
não cabe uma crítica, mas uma constatação: somos mesmos sobreviventes. E vamos
continuar...e não por teimosia, mas por respeito ao sacrifício de nossos
antepassados. Ser teimoso não é um dom, ter respeito à memória é.
Sinceros agradecimentos a todos/as que fizeram a Literatura Indígena
assumir seu protagonismo dentro da sociedade brasileira. São muitos os nomes e
por isso fica meu abraço fraterno ao Núcleo de Escritores e Artistas Indígenas
do Inbrapi – NEArIn – que reúne, congrega, integra, difunde, apóia e incentiva
a difusão da literatura indígena.
Parabéns pelo belo trabalho!
ResponderExcluirContinuo fazendo minha parte, como formiguinha e pronta a colaborar, se a participação de uma branca de alma indígena puder ser aceita, principalmente no trabalho com professores. Abraço amigo
Parabéns pelo belo trabalho!
ResponderExcluirContinuo fazendo minha parte, como formiguinha e pronta a colaborar, se a participação de uma branca de alma indígena puder ser aceita, principalmente no trabalho com professores. Abraço amigo