Meu Vô Apolinário - Um mergulho no rio da (minha) memória



 Meu vô Apolinário 
 Daniel Munduruku
Comentários de
Regina Salamonde



Daniel Munduruku

il. Rogério Borges
Studio Nobel, 2003
40 pp.


Meu Vô Apolinário deu a Daniel Munduruku a Menção Honrosa no Prêmio Literatura para Crianças e Jovens na Questão Tolerância, em 2003, pela UNESCO. O texto tem narrativa suave de linguagem simples na primeira pessoa. Realmente, é tão presente a oralidade que parece que o leitor está ouvindo um conto, de cócoras, numa roda de fogueira, numa aldeia indígena, em noite sem lua.

Trata-se da história de Daniel-menino e da pessoa que ele vai se tornando, ao longo dos anos de convivência com seu Avô Apolinário. Assim, orgulho de origem, respeito pela tradição, reverência pelo passado, ancestralidade, sabedoria das coisas, paciência, coragem, perseverança, leitura e preservação da natureza são aspectos da cultura indígena que perpassam a narrativa. O menino-Daniel é conduzido por seu Avô em sua aprendizagem e o leitor não só avança, junto com o autor, pelas florestas brasileiras e partilha do seu orgulho por ser índio, mas também compreende a paixão que o educando nutre por aquele Avô que o ensinou a não estar o tempo todo no chão, uma vez que “nascemos com asas para voar em muitas direções, às vezes sem sair do lugar...”

Consegue, portanto, Daniel Munduruku, através de singela história sobre o aprendizado de um menino-índio a respeito de suas crenças, lendas, mitos e origem, trazer-nos alguns assuntos de relevância, como a importância do conhecimento de nossas raízes, as consequências do respeito pela tradição e ancestralidade de um povo, e a problemática do conflito entre as diferenças culturais. Aborda ainda o tema tão atual do binômio homem-natureza e nos mostra a sinergia que aí deve existir para não só se adquirir qualidade de vida, mas também se preservar a vida do planeta. Por tudo isso, concluímos que é leitura recomendada que atingirá leitor de todas as idades.

A ilustração vem-nos por Rogério Borges. Para ele, traduzir, em imagens, as experiências de um índio foi um privilégio. Principalmente por serem essas contadas por ele mesmo (o próprio Daniel) e, também, por haver escassez de informações visuais sobre o povo Munduruku. Este fato demandou que o artista tivesse que combinar várias culturas indígenas para ilustrar o livro.

O resultado foi muito positivo. Rogério Borges escolheu para capa e quarta capa figuras da natureza. Folhas várias, penas, cascas, galhos, frutos, pedaços de troncos, ramagens (urucum) fazem moldura ao título do livro – uma homenagem, talvez, a esta mata em que Daniel viveu. No papel branco, elas ressaltam. Cada uma com a sua singularidade.


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A impressão em papel couché fosco valoriza as ilustrações em técnica mista. Estas nos sugerem tanto a rusticidade da cultura indígena, quanto insinuam, através das cores escolhidas e da indumentária representada, um indígena bravo, livre, consciente de sua origem e centrado na sua ancestralidade. Temos, deste modo, uma imagem que enriquece o texto, com uma narrativa visual paralela, que reproduz as experiências de Daniel. A ilustração do artista reforça a fluência e veracidade do texto e está, sempre, em sintonia com a atmosfera trazida pelas palavras, seja informando, seja traduzindo um sentimento.

Meu Vô Apolinário é belo texto, ilustrado com ricas imagens de uma cultura, pilar de nossa história.

Um comentário:

  1. DM, além de figura ampla no acolher é um contador e criador de histórias invulgar. Precisamos lê-lo sempre a fim de nos reencontrar, reconhecer e se apaixonar plelo Universo dos Povos Indígenas.

    Como ele nos ensinou na língua do seu povo:
    Xipat Oboré (Tudo de Bom!).

    Ademario Ribeiro Payayá

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